Para entrar em nossa lista, envie e-mail para: copadomundodf@googlegroups.com Quem quiser participar, só avisar. Compareça !!! Participe !!! Construa conosco !!!
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Faz um 21! Ligue pra Câmara pra falar da Lei Geral da Copa
| |
Saiba mais: Instituto de defesa do consumidor faz campanha contra Lei Geral da Copa: http://globoesporte.globo.com/ Lei Geral da Copa: votação será na próxima terça-feira: http://esportes.terra.com.br/ | |
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Lei Geral da Copa: excessos de concessões à FIFA
domingo, 11 de dezembro de 2011
Dossiê sobre violações de direitos humanos da COPA será lançado na segunda (12)
Lista preliminar de órgãos que receberão o Dossiê
Municipal: Prefeituras e câmaras de vereadores das cidades-sede, além de secretarias municipais e órgãos fiscalizadores.
Estadual: Governos, assembleias legislativas, Ministérios Públicos Estaduais, além de secretarias e órgãos fiscalizadores responsáveis em estados que vão receber a Copa.
Federal: Governo Federal (Secretaria Geral da Presidência, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Ministérios das Cidades, dos Esportes, da Justiça, do Trabalho, do Meio Ambiento, entre outros), Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Controladoria Geral da União, Tribunal de Contas da União, BNDES, Caixa Econômica Federal, Ibama, entre outros órgãos fiscalizadores.
Internacional: ONU, OEA e OIT.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Lei Geral da Copa - Nota da Articulação Nacional
Para baixar o documento, clique aqui.
“LEI GERAL DA COPA: O povo brasileiro diz NÃO!
A Presidente Dilma enviou ao Congresso Nacional o projeto de Lei Geral da Copa (PL nº. 2330/2011) que dispõe sobre medidas relativas à Copa das Confederações de 2013 e à Copa do Mundo de 2014. Tal projeto cria um contexto de exceção, com alterações legais e administrativas de caráter excepcional, e atenta frontalmente contra os interesses nacionais, tudo em benefício da FIFA e seus parceiros. Por tal razão, os Comitês Populares da Copa das 12 cidades sede exigem que o Congresso Nacional rejeite a proposta do Executivo e abra um amplo debate com a sociedade sobre as medidas relacionadas com a realização dos Jogos no Brasil. Existe forte empenho do Governo em aprovar o projeto na Câmara dos Deputados ainda neste ano (nas vésperas do Natal!), o que poderá consagrar definitivamente a prevalência da FIFA sobre o Estado, sobre as leis e sobre o próprio povo brasileiro. Vejamos os principais absurdos e ilegalidades deste projeto.
Proteção e exploração de “direitos comerciais” pela FIFA
A Lei Geral da Copa cria um procedimento especial junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) para o registro de marcas consideradas “símbolos oficiais” de titularidade da FIFA, garantindo a exclusividade do seu uso e tirando do órgão o poder de decisão quanto à natureza do registro de marca. No texto normativo não há qualquer restrição sobre o significado do termo “símbolos oficiais”, que pode abranger tudo o que a FIFA indicar como tal. Todas as imagens que compõe o imaginário coletivo de paixão nacional pelo futebol correm o risco de terem que pagar “direito autoral” à FIFA. O art. 5º, por exemplo, prevê que “o INPI não requererá à FIFA a comprovação da condição de alto renome de suas marcas ou da caracterização de suas marcas como notoriamente conhecidas”. Na prática a lei deixa ao arbítrio de uma entidade privada, a FIFA, a escolha dos bens imateriais que monopolizará, conferindo prioridade na tramitação dos registros apresentados pela FIFA (mais de 1000 até agora!), com isenção de todas as retribuições previstas na lei de propriedade industrial.
Restrição comercial e vias de acesso
O projeto prevê a proibição de venda ou exposição de quaisquer mercadorias nos “Locais Oficiais de Competição, nas suas imediações e principais vias de acesso” (art. 11), sem permissão expressa da FIFA. Tal medida irá impactar fortemente sobre o comércio local e os ambulantes serão penalizados se trabalharem nas “áreas de exclusividade” (zonas de exclusão) que serão demarcadas pelos municípios, “considerados os requerimentos da FIFA ou de terceiros por ela indicados” (sic!). Trata-se de inaceitável monopólio do exercício de atividade comercial a uma entidade privada e às empresas que lhe estão associadas.
Venda e preço dos ingressos
Violando o Código de Defesa do Consumidor, a proposta de Lei Geral da Copa concede à FIFA amplos poderes para determinar tanto o preço quanto as regras de compra e venda, alteração e cancelamento de ingressos, além de permitir a ilegal venda casada e tirar do consumidor o direito de arrependimento. Ainda não está previsto no projeto, mas a FIFA tem feito pressão sobre o Governo para suspender a meia-entrada para estudantes e idosos, solapando essa conquista social. Os brasileiros, ao que tudo indica, não estão convidados para a festa na sua própria casa.
Novos crimes, sanções civis e juízos especiais
Como se não bastasse, a proposta também prevê crimes excepcionais, com data de validade definida até 31 de dezembro de 2014. São eles: “Utilização Indevida de Símbolos Oficiais”, “Marketing de Emboscada por Associação” e “Marketing de Emboscada por Intrusão”. Acompanham os novos crimes as penas de detenção, multa e um conjunto de sanções civis relacionadas à venda de produtos e atividades de publicidade. Esses dispositivos penalizam até os bares que pretendam transmitir os jogos, afetando o comércio e a confraternização popular tão própria de nossa cultura esportiva. Além disso, o art. 37 do PL nº. 2330/2011 permite a criação de juizados especiais, varas, turmas e câmaras especializadas para julgar demandas relativas aos jogos, ou seja, a Lei Geral da Copa abre brecha para que se crie uma Justiça de Exceção no Brasil, tal como foi feito na África do Sul por pressão da FIFA. Essa medida é claramente inconstitucional, como já foi manifestado inclusive por ministros do STF. Acrescente-se que, diferentemente de qualquer brasileiro que, ao buscar a justiça, deve recolher custas e pagar as despesas processuais, caso não seja beneficiado com a assistência judiciária, a FIFA, pela proposta (art. 38), fica isenta de qualquer despesa processual!
Vistos de entrada e permissões de trabalho
A soberania do Estado Brasileiro também foi jogada pra escanteio na proposta de Lei Geral da Copa. O projeto prevê a concessão automática de vistos de entrada e permissões de trabalho à FIFA, “a qualquer indivíduo que ela indicar”, à equipe dos “parceiros comerciais da FIFA”, qualquer pessoa com ingresso e outros. O país perde qualquer poder de controle quanto à entrada de estrangeiros em território nacional. Criam-se fronteiras internacionais dentro das nossas cidades, enquanto se dissolvem nossas fronteiras atendendo às exigências da FIFA. Assim, a FIFA se transformaria numa espécie de consulado geral e plenipotenciário do Brasil, por proposta de nosso governo, obrigado constitucionalmente a defender nossa soberania. Basta comprar o ingresso!
Responsabilidade da União, ou melhor, do povo!
A Copa, como grande negócio que é, requer garantias. Assim, a proposta prevê que a União assuma a responsabilidade por qualquer dano causado à FIFA. Não se trata apenas de responsabilidade civil pessoal. A União responderá amplamente por “todo e qualquer dano resultante ou que tenha surgido em função de qualquer incidente ou acidente de segurança relacionado aos Eventos”. Pelo projeto o Brasil se torna o fiador da FIFA em seus negócios particulares.
Direitos de imagem, som e radiodifusão
Pela redação do projeto, a FIFA será a “titular exclusiva” de todos os direitos de transmissão e pode impedir a presença da imprensa, como já ocorreu durante o sorteio das eliminatórias. Nem mesmo a liberdade de imprensa passou ilesa à ganância da entidade.
Considerações finais
A Lei Geral da Copa atende a exigências previstas no Caderno de Encargos da FIFA. O argumento de que o Governo Brasileiro assumiu estes compromissos é inaceitável, pois o governo não tem autoridade nem delegação para assumir acordos com entidades internacionais à revelia do Poder Legislativo e em clara oposição à Constituição Federal e às leis vigentes. Em nome dos negócios e dos lucros da entidade, percebemos uma relação de vassalagem política das nossas autoridades perante a FIFA, em prejuízo da nossa soberania, da legislação interna e dos interesses nacionais. Até mesmo as principais garantias do Estatuto do Torcedor, aprovado em 2003, estarão suspensas durante a realização dos jogos no Brasil (ver art. 43, do PL nº. 2330/2011). Isso tudo sem mencionar tantas outras violações e ilegalidades que já tem ocorrido em função da realização dos jogos, tais como, falta de informações, remoção e despejos arbitrários de comunidades pobres, repressão sobre trabalhadores informais e população em situação de rua, exploração sexual de mulheres e crianças, endividamento público acima do autorizado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, falta de transparência, precarização do trabalho, segregação sócio espacial, etc.
Em verdade, a Lei Geral da Copa, caso aprovada, não será a primeira lei que atenta contra o ordenamento jurídico brasileiro. Outros exemplos são a lei nº. 12.350/2010 que isenta de tributos federais produtos e serviços relacionados com os jogos e a lei nº. 12.462/2011 que, para driblar a lei geral de licitações brasileira, criou um Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para as obras da Copa das Confederações de 2013, Copa do Mundo de 2014, Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Além das leis de exceção aprovadas no âmbito dos estados e municípios da federação para viabilizar a qualquer custo a realização da copa.
Obviamente, a realização dos jogos não pode justificar o desrespeito aos direitos e garantias previstos na Constituição e nas leis. Jamais podemos esquecer que a FIFA, a CBF e o COI são entidades privadas. O Comitê Organizador Local do Mundial de Futebol, por sua vez, é uma sociedade Ltda! Por mais relevante que seja a organização dos Jogos Olímpicos e Mundiais, não podemos tolerar uma legislação que garanta privilégios a particulares, em caráter jamais visto no país, subjugando o próprio Estado brasileiro.
Os interesses do povo brasileiro devem estar em primeiro lugar! Queremos que sejam aprovadas leis especiais para fortalecer a cidadania e superar as desigualdades históricas do nosso país, garantindo acesso universal e efetividade aos direitos sociais previstos na Constituição, e não para potencializar os lucros de uma empresa como a FIFA que se coloca acima de qualquer forma de controle social, dentro ou fora do país.
O Congresso Nacional tem o dever de abrir um amplo debate para que a vontade do povo brasileiro prevaleça sobre os interesses estritamente econômicos que estão por trás da realização dos jogos. De nossa parte, seguimos em luta para impedir esses e tantos outros abusos relativos à realização dos megaeventos esportivos.
EXIJA DOS PARLAMENTARES QUE ELES BARREM A LEI GERAL DA COPA!
Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa
(*) Nas 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo de 2014, entidades, movimentos sociais e organizações políticas, criaram comitês populares para se opor às violações, abusos e ilegalidades relacionadas com a realização dos Jogos Mundiais e Olímpicos.”
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Máfia do futebol
*Retirado de www.brasildefato.com.br/node/7012
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Rei Ricardus
Um dos meus exercícios preferidos é contrariar minha mãe. É divertido vê-la subindo nas tamancas, como minha avó diria, viva estivesse. A reação dela ao ouvir uma nota 6 para um almoço que ela julga ser 10 é digna de um Oscar por melhor drama. O negócio também vai para discussões mais fervorosas, para assuntos como família ou mesmo postura de vida. Ou mais ou menos relevantes, como futebol.
Eu ainda tinha menos de 10 quando, no fim daquele jogo da Copa do Mundo, minha mãe correu para se sentar no banco redondo e dedilhar no piano a música de tango à qual a maioria está acostumada. No apito final, ela fez sua melodia e esfalfou-se com a desclassificação do Brasil em 1990. Não eram bem essas as palavras, mas como conheço a figura, certamente era algo como “mas não são os bons, os melhores?”, e caía na risada, congraçada e realizada pela eliminação do time do qual não suportava a soberba e a falta de humildade.
Até hoje é assim. E se aparece a tal figura em alguma reportagem, digamos que desgraçado seja o predicado mais leve. Jeitão dela.
De certa forma fui influenciado por aquilo, mas no confronto dos meus ideais de provocá-la, minha aversão pela Seleção acabou em um meio termo. Preferi torcer pela Dinamarca. É bem mais legal. Na Copa de 1998, aos 2 minutos de jogo, minha mãe e eu fizemos eco na sacada de casa com o gol de Jorgensen. No fim do jogo, lembro da lágrima furtiva pelo 3 a 2 contra e ela lá, malditos, filhos da puta, não vão ganhar essa merda. Em 99,9% das vezes, numa estatística com certa margem de erro, sou aloprado pelos insucessos, mas vida que segue. Eu escolhi para quem torcer. Não fui tomado por um patriotismo ou nacionalismo falso que só existe em períodos de quatro anos. No intervalo, há uma catarse e uma letargia coletivas.
A pátria em chuteiras. Nelson Rodrigues reavaliaria isso. O homem que comanda a pátria em chuteiras é o mesmo da época daquele tango. Fisicamente não mudou muito. Juridicamente, um tanto quanto. Em negócios faraônicos, inverteu dunaS para formar uma empresa, da qual formou sítios e mansões. Lavou as mãos e molhou. Saiu impune. Na nossa republiqueta, fez-se rei e como escudo pôs a principal emissora do país. Ali ganhou mais do que o quarto poder nas mãos, e qualquer sujeira vem sido varrida para debaixo do gramado, mesmo se o estádio em volta esteja longe de ser erguido.
O Brasil ganhou a Copa. Ganhou? Quedê? O que o Brasil ganhou com a Copa, se a Copa indica um estado de exceção em prol de uma entidade esportiva? A tal figura ganhou com a Copa, e com ela no bolso, seu reinado virou absolutista. Luis XIV tem inveja no mundo paralelo da tal figura que cooptou gente ministerial e de outras casas oficiais da republiqueta e encheu de brindes e mimos seu fiel escudo de microfone. O futebol virou um ciclo de cifrões oriundos da imoralidade.
Eu me sinto bem à vontade para falar do pouco poder desta quarta via por pertencer a ela. Sinto certo asco. Da fraqueza e do pouco empenho que se faz para levantar fatos e investigar, da subserviência e da comodidade que se inclinam diante da presença do ‘doutor’ — aliás, é fácil ser doutor sem ter o título. Não é só no futebol, não, doping e Tarso Marques não me deixam mentir. As tantas que tentam agir só o fazem por chantagem ou vingança. É o jornalismo conveniente típico das bases dos amigos de balada que não conseguem ficar com uma garota. Se eu não pego, ninguém pega. As exceções acabam sendo tão poucas que o barulho pouco incomoda e é abafado porque aquela que deveria ajudar e zelar vê o Brasil como Springfield. E a gente acaba admirando e se perguntando como não temos profissionais como Andrew Jennings, o jornalista da BBC que mexe com a vida desta quadrilha que, como fim, acaba mexendo com a minha conta, que não tem isenção fiscal nem mesmo se faltarem alguns centavos.
Não que tivesse alguma dúvida de que tipo de caráter se trata, mas li com atenção hoje à reportagem da ótima Piauí hoje. Não tenho língua papal nem muitas papas, mas a vulgaridade do ‘doutor’ é espantosa. Não a vulgaridade, sei lá. É a empáfia, a arrogância e a prepotência, o escárnio e o deboche. A tal figura só temeria e baixaria seu topete gris se fosse mal falada no ‘JN’. Mas o tio que lá edita escolhe as principais notícias tal como seus seguidores fazem com suas gravatas, já que sabe bem que as portas daquela casa estão sempre abertas e convidativas. A tal figura aí é a expressão máxima da banana que a personagem de Reginaldo Faria dá ao Brasil no fim de ‘Vale Tudo’, novela da época do tango que repassa nos dias atuais. A banana vai ser dada daqui quatro anos, num teórico pós-Copa em que provavelmente a parte de exceção da imprensa vai estar debatendo o rombo, os elefantes brancos e a ausência dos legados da competição. A banana é, por que não, posta virtualmente em nossos rabos. Há quem goste e que ajude a descascar. Tem gosto pra tudo. As chuteiras da pátria ajudam a enfiar.
Qualquer cidadão que se preze e que se julgue brasileiro — não o brasileiro que só lembra do país para torcer por 11 barbados —, deveria ser completamente contra a realização desta Copa, que é apenas um subterfúgio para movimentação de bilhões sem o mínimo de retorno para nosso futuro cotidiano. Quem se une em marchas para maconha, liberdade, homossexualidade ou religião ou faz qualquer flash mob para imitar a cena das cataratas do Niagara do Pica-Pau deveria ter motes mais civis para exigir transparência de toda essa gente que ronda a tal figura, principalmente ela. Ou ainda, quem espera acontecer — ou, numa linguagem adaptada, quem caga montão — pelo menos deveria parar de torcer para este Brasil. Quem apoia fervorosamente compactua com a figura nefasta que é dona imperial deste suposto time e deste suposto país. Pena que não vai rolar. Porque o Brasil não deu certo. Nunca deu certo. Não há de dar em três ou quatro anos.
Do lado de cá, sigo sendo Dinamarca e me vejo na difícil situação da admissão de que minha mãe esteve sempre certa. Vou dizer a ela o 10 que, enfim, merece no almoço que faço questão de preparar no fim de semana, ao som de Gardel.
Victor Martins é Jornalista, e Editor-executivo do site Grande Prêmio e da revista on line Warm Up. Texto retirado de http://colunistas.ig.com.br/victormartins/2011/07/07/rei-ricardus/segunda-feira, 13 de junho de 2011
Por trás do jogador-empresa
Um dos vieses no qual o futebol pode ser estudado é a realidade do trabalhador do esporte, enquadrado numa especificação oficial de esportista de alto rendimento. Obviamente não se trata de uma discussão simples. Afinal, o esportista, ou mais precisamente o futebolista, vive uma realidade completamente distinta dos outros trabalhadores.
A começar pelo seu status de estrela. O futebol tornou-se nos últimos anos um verdadeiro show business, que vai muito além da concepção de esporte na qual surgiu. Antes uma prática de lazer amadora, com a sua profissionalização vira uma atividade assalariada. Com o passar dos anos, devido à inserção de outros atores na vida dos futebolistas, como os agentes, o poder de barganha de alguns desses trabalhadores possibilitou conquistas materiais inimagináveis para qualquer outra categoria da classe.
No Brasil, esse novo modelo de relação com os clubes instaurou-se nos últimos dez anos – e mais nitidamente após a passagem de Ronaldo no Corinthians. Podemos chamar esse tipo de atleta de jogador-empresa, já que seus interesses e seu poder de negociação são superiores aos dos próprios dirigentes.
Também, pudera. Endividados e não-democráticos, os clubes brasileiros buscam a qualquer custo alguma saída para seus rombos anuais consecutivos. O modelo de contrato que Ronaldo praticamente inaugurou no Brasil reproduziu-se em outros casos como a vinda de Ronaldinho Gaúcho para o Flamengo e a de Juninho Pernambucano para o Vasco, em 2011. É também o modelo ao qual recorreu o Santos para segurar o jovem Neymar (na foto).
Trata-se de uma relação quase igualitária entre o jogador e o clube na venda de direitos sobre publicidade, televisivos e da renda dos jogos, estendendo-se a outras benesses. Tal relação acaba reverberando nas relações políticas internas do clube, uma vez que os interesses privados dos empresários ligados aos craques passam a interferir no dia-a-dia das agremiações. Entre eles, a demissão de treinadores, a não escalação de jogadores por antigas desavenças e aumento do preço dos ingressos.
Engana-se, no entanto, quem acredita que salários astronômicos, prêmios por produtividade e alto poder de consumo são realidades presentes na vida de todos os atletas, ou uma possibilidade em futuro próximo. Dados recentes apontam que 96% dos profissionais do futebol no Brasil – aqueles que fazem com que a bola não pare de rolar – recebem entre dois e três salários mínimos. Apenas 3% recebem mais do que 10 mil reais mensais.
Fazer com que a bola não pare de rolar, eis um grande problema. No futebol, pouco se discute a raiz da sua funcionalidade. Suas engrenagens, complexas e focadas nos grandes clubes, escondem que o jogo não existiria sem as pequenas ligas e as agremiações desconhecidas dos longínquos rincões do país.
Sem os pequenos clubes, o futebol definharia. Nessas entidades básicas de prática do desporto, forma-se o grande exército de futebolistas que compõem os plantéis dos médios e grandes clubes do Brasil e do mundo. Por mais que os mais famosos tenham lançado, nos últimos anos, um grande esforço para estruturar suas “divisões de base” — nome dado às escolas de formação de atletas profissionais –, os que são formados não suprem a rápida e violenta dinâmica do futebol.
Não é a toa que os interesses privados e mercadológicos que hoje rondam o futebol passaram a visar à formação de jogadores. As conhecidas “granjas”, escolinhas de futebol que pinçam os futuros craques através dos seus sistemas de peneiras, tornaram-se um dos grandes problemas de quem estuda criticamente o jogo. Já são diversos os casos de “clubes” que nascem apenas para a formação de atletas para a comercialização dos “direitos federativos” dos atletas, muitas vezes numa lógica cruel.
São clubes-empresa como o Olé Brasil, o Desportivo Brasil e o Pão de Açúcar E.C. Financiados por grandes empresários, estruturam tais escolas, mesmo que não tenham esquadrões de jogadores profissionais para disputar as principais competições. Na verdade, nem se prestam a isso, já que não se trata um negócio compensatório. Uma extrema contradição que não termina apenas aí, já que compromete inclusive a vida pessoal dos jovens atletas aliciados a assinar contratos com tais agentes.
Não seria um esforço teórico caracterizar tais instituições como promotoras do trabalho infantil. Jovens de 15 anos são levados a uma cidade desconhecida, por conta de um agrado financeiro dado aos pais, irrecusável dado os rendimentos familiares da grande maioria da população brasileira. Vivem em regimes fechados de concentração, treinando em dois turnos. Caso sofram uma lesão grave, são automaticamente descartados do grupo e abandonados. De fato, menos de 1% dos jovens que se envolvem com esse tipo de prática de formação tornam-se profissionais. E embora reúnam adolescentes e jovens em idade escolar, e os afastem de suas atividades normais, raras são as “granjas” que oferecem escolas – menos, ainda, uma formação humanística.
Uma realidade tão costumeira que não causa pudor em ser expressada. Quando Ronaldo, o Fenômeno, revelou seu interesse em agenciar jovens atletas, justificou sua nova aventura dizendo que se trata de um “negócio atraente” no qual “você compra dez jogadores e, se um der certo, já paga os outros nove”.
É dentro dessa lógica, inclusive, que muitos são “auxiliados” a adulterar seus documentos de identidade para fazer o famoso “gato”, reduzindo a sua idade real para, mais novos, conquistarem espaços em clubes. Vários foram os casos de jogadores que, descobertos após anos, sofreram sérias conseqüências. Entre os famosos já estiveram Sandro Hiroshi, ex-jogador do São Paulo e Carlos Alberto, ex-Corinthians.
Outros atletas, espelhados em casos raros como o dos jogadores-empresa, são forçados a jogar em países distantes, na sede de salários maiores. Muitas vezes, são esquecidos pela grande mídia, além de sofrerem com a falta de adaptação. Foi o caso de Elano, atualmente no Santos, quando jogava no Shakhtar Donetsk, da Ucrânia.
Inseridos numa lógica meritocrática, os profissionais também têm se tornado um grande problema para os clubes e o futebol como um todo. São frequentes no Brasil os casos de jogadores que abandonam os times, assim como fecham contratos irregulares com outras agremiações, fazem “corpo-mole” para conseguir uma dispensa, entre outras técnicas reprováveis. Na maior parte das vezes, auxiliados financeira e juridicamente pelos próprios empresários, cada vez mais fortalecidos pelas leis de direitos federativos.
A nova realidade anula uma conquista anterior. Com o fim do “passe”, os jogadores haviam conseguido, após anos, livrar-se da tutela paternalista dos cartolas dos clubes, relação de fato muito cruel. Mas acabaram caindo no poder privado e mesquinho dos agentes: o que era direito deturpou-se em nova servidão, agravada pelo baixo grau de escolaridade da maioria dos atletas.
Foi como descreveu certa vez o sociólogo Emir Sader: “Os jogadores se livraram da despótica lei do passe para se transformar mercadorias nas mãos dos empresários. Como se tivessem sido abolidos os grilhões da servidão medieval para que os jogadores se tornassem ‘livres’ – com são ‘livres’ os trabalhadores no capitalismo: têm que vender sua força de trabalho a quem consigam, por não ter meios próprios de sobrevivência. A liberdade passou a ser a do empresário e a do capital, para comprar e vender suas mercadorias, não a dos jogadores”
Casos como esses forçaram clubes com longo histórico de formação de jogadores, como Cruzeiro e Vitória, a fechar algumas categorias de suas divisões de base. Alegaram que de nada adiantava formar atletas que posteriormente seriam “roubados” por tais empresários.
Ainda sobre a formação de jogadores, é preciso lembrar que o futebol não existe apenas para o resultado. Envolve uma enorme carga de relações subjetivas entre o clube, os torcedores e principalmente os atletas, grandes heróis que fazem o jogo acontecer. Quando sua formação se dá fora dos clubes de torcida, cria-se um novo tipo de atleta, que nunca passou por um processo de identificação com as cores de uma camisa ou uma nação de torcedores. Esvaziam-se, desse modo, as relações afetivas que fizeram do futebol um promotor de paixões. Surgem homens tratados como máquinas para chutar bolas e beijar um escudo pelo qual não tem o menor sentimento.
Felizmente, existe vida crítica e pensante, formulando novas saídas para o que está errado. Em recente e interessantíssimo artigo em seu blog, o jornalista Lucio de Castro narrou uma passagem pelo Uruguai e o novo modelo de formação de atletas que tem sido estimulado no pequeno país.
Lúcio descreve como o trabalho do psicólogo Gabriel Gutierrez abriu uma nova dimensão, com resultados concretos, na formação de jogadores que sejam acima de tudo “gente”. Questionando o tratamento que esses recebem no seu dia-a-dia dentro de um clube, desde um confinamento desumano até a exigência de que se comportem como máquinas dentro de campo, os uruguaios refutam tal modelo, mostrando que jogadores não são “bichos”.
É um método de simples aplicação e não seria novidade na mente de qualquer ser pensante. Mente e corpo não funcional isolados. Um super atleta de músculos potentes e avantajados pouco alcança, se não tiver oportunidades para desenvolver suas capacidades intelectuais.
Porém, como aplicar ideias inovadores em clubes de futebol cuja estrutura deliberativa é fechada e autoritária? Se não há, nem por parte de cartolas, nem de empresários, responsabilidade social? O único caminho é a democratização dos clubes para os torcedores. Aí, sim, se abrirão espaços para aplicação de boas e novas idéias.
*Irlan Simões e colaborador de Outras Palavras e militante da Enecos, Executiva nacional das e dos Estudantes de Comunicação
Collor na Copa-2014
Juntos novamente. O ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) tem mantido contato frequente com Ricardo Teixeira e vai ajudar o presidente da CBF na articulação de projetos para a Copa-2014 no Senado brasileiro.
É Collor quem comanda a Comissão de Relações Exteriores da casa. Nos dois anos anteriores, quando chefiou a Comissão de Infraestrutura, responsável pela fiscalização das obras do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, voltou a ter contato com o dirigente, cuja primeira Copa como presidente da CBF foi em 1990. O presidente do Brasil era Collor.
Na ocasião os dois trabalharam articulados e foi Collor quem sugeriu o nome de Olavo Monteiro de Carvalho para chefiar a delegação brasileira na Itália. O Brasil de Lazaroni fracassou e foi eliminado nas oitavas-de-final.
Agora Collor ofereceu a Teixeira a assessoria da embaixatriz Lúcia Flecha de Lima, que o ex-presidente acaba de contratar, para auxiliá-lo em contatos para melhorar a imagem da organização para o Mundial no Brasil. Flecha de Lima também deve fazer contatos para a conferência Rio+20, que acontece no ano que vem.
É, juntos mais uma vez…
segunda-feira, 2 de maio de 2011
A tabela hipócrita entre a política e o futebol
Jose Cruz (retirado de http://blogdocruz.blog.uol.com.br/ )
Com o apoio de oito empresas e liderados pelos grupos “Movimento Brasília Merece” e “Diários Associados”, o Correio Braziliense de hoje lança a campanha “Os Caras Pintadas estão de volta”.
Coloridos rostos – ou caras – enfeitam a capa do jornal anunciando que “é hora dos brasilienses ganharem visibilidade nacional e internacional”.
Objetivo do barulho: Brasília ser a sede do jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014.
A outra cara de Brasília
Durante a semana, as emissoras de televisão da Capital da República exibiram deprimentes imagens do abandono da rede hospitalar do Distrito Federal. Cento e vinte dias depois de o governador petista, Agnelo Queiroz, ter assumido, a situação é mais grave que nos tempos dos ex-governantes, Joaquim Roriz ou José Roberto Arruda. Agnelo é capaz desse recorde.
Velhos recebem soro deitados no chão, porque não há macas!!! Outros, estão inconscientes em cadeiras espalhadas pelo meio da balbúrdia e do barulho, naquele ambiente escuro e imundo.
Numa sala em que o teto havia desabado algumas horas antes, uma paciente declarou que sua cirurgia fora remarcada pela quinta vez em duas semanas.
As cenas se repetem nos demais hospitais públicos da cidade, transmitindo total insegurança aos que ali vão se socorrer. O risco de morte é iminente pela falta de assistência.
Viajante
No mesmo dia em que estas notícias eram divulgadas pela televisão, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz – um dos que ajudou a criar o desastroso “legado” do Pan 2007 – viajava para Buenos Aires. Lá, o doutor foi conhecer um estádio de futebol. Quer algo similar no Mané Garrincha, que reconstroi em Brasília, ao custo de R$ 700 milhões. Outro tanto será gasto no gramado, cobertura, cadeiras, iluminação etc... As suspeitas de fraudes nos trabalhos que se realizam são investigadas pelo Ministério Público.
Por que uma viagem à Argentina para conhecer um estádio de futebol, e não a um moderno hospital público do país que servisse de exemplo sobre gestão eficiente?
Pois é nessa realidade que um grupo de pessoas – quem sabe beneficiadas por valorizados planos de saúde – lança o movimento “Brasília Merece”. E que a capital “precisa ganhar a visibilidade no cenário nacional e internacional”.
Sinceramente, não sejamos cínicos. Porque a imundice que nos entristece – e mata – está escancarada e sem campanha pública e colorida para mudá-la.
O futebol profissional, há muito, tronou-se instituição sinônimo de fraude, de corrupção, de malandragens, de negócios ilegais, de trambiques entre gestores e políticos. E é nesse ambiente que o governador Agnelo Queiroz se envolve para dar visibilidade a Brasília. E com o apoio de Caras Pintadas, de histórica lembrança, mas, agora, de péssimo oportunismo e vínculo político.
Sugiro que esse Caras Pintadas visitem por 30 minutos – apenas isso, meia hora – os hospitais de Brasília. Nem precisam ir às escolas públicas para terem visão maior dos nossos problemas. Com certeza a campanha de vocês, que demonstra entusiasmo, alegria e vitalidade, mudará os rumos.
Aí sim a cidade poderá ganhar visibilidade que defendem, pela solidariedade de seu povo saudável.
Porque, até aqui, a imagem é triste e deprimente. Pela incompetência da gestão governamental que se acumula há anos, a saúde pública perde de goleada para a tabela hipócrita – e suspeita – que une a política ao futebol.
sexta-feira, 11 de março de 2011
Copa 2014: rendas de jogos em quatro cidades-sedes é abaixo da crítica
Copa 2014: rendas de jogos em quatro cidades-sedes é abaixo da crítica
Por Walter Guimarães
A repercussão do artigo que escrevi sobre a falta de público em algumas das cidades sede da Copa de 2014 deixa clara a diversidade dos pensamentos dos leitores do Blog do Cruz.
Por isso, avancei nas pesquisas e mais um resultado divulgo agora, na tentativa de enriquecer o debate sobre a decisão governamental ao selecionar as 12 sedes para o Mundial que se aproxima.
Além da média de público, publicado na mensagem anterior, a análise das rendas das partidas é importante para mostrar a movimentação da economia do futebol nas cidades de Cuiabá, Brasília, Manaus e Natal – sem tradição de grandes campeonatos –, bem como nas de Goiânia, Belém e Florianópolis, que batizei como “estádios fora da Copa”, apesar de terem competições bem mais atrativas que as quatro sedes acima.
Rendas líquidas
Os números a seguir apresentados são as somas das rendas líquidas, ou seja, descontados os impostos e despesas com arbitragem e quadro das federações.
Soma das Rendas Líquidas nos Estaduais de 2011:
Cuiabá: R$ 2.754,26 // 4 jogos // média: R$ 668,57
Brasília: R$ 110.282,74 // 40 jogos // média: R$ 2.757,07
Manaus: R$ 21.948,50 // 7 jogos // média: R$ 3.135,50
Natal: R$ 216.004,47 // 9 jogos // média: R$ 24.000, 50
Os “fora da Copa”:
Goiânia: R$ 647.219,92 // 15 jogos // média: R$ 43.147,99
Belém: R$ 542.759,74 // 11 jogos // média: R$ 49.341,79
Florianópolis: R$ 839.508,97 // 11 jogos // média: R$ 76.319,00
Diante desses números, faço duas observações para melhore se entender a realidade desta análise:
1. A Federação Matogrossense não disponibilizou todos os borderôs dos jogos. Até a 5ª rodada foram disputados 7 partidas em Cuiabá, mas apenas 4 delas estão na análise.
2. A situação da Federação Amazonense é mais caótica. Até o momento nenhum boletim financeiro dos jogos foi publicado no site, contrariando o Estatuto do Torcedor. Diversos emails foram enviados sobre a irregularidade, mas não houve qualquer manifestação. Para a análise foram somadas as rendas brutas e retirados 30% do total, valor mínimo de desconto apresentados nos borderôs dos outros estados.
Finalmente:
Voltarei a este assunto para apresentar os números de público e renda das cidades em análise, nas competições da Copa do Brasil.
Walter Guimarães é jornalista e pesquisador de assuntos sobre futebol